quinta-feira, 30 de maio de 2013

Porto Alegre de luto! Mas a luta continua!

          Escrevo esse post um dia depois de Porto Alegre ter perdido a oportunidade de ser uma cidade referência no cenário nacional e internacional. Seus administradores optaram pelo caminho inverso, que foi dar as costas aos cidadãos e à identidade da cidade. A força do dinheiro foi maior. A força de interesses políticos foi maior. A subserviência aos mandos do capital estrangeiro foi total.
          A ação para cortar as árvores que faziam parte do Parque Gasômetro foi completamente covarde. Para aparentar a legalidade, foi expedida uma ordem de desocupação do local para os manifestantes, que estavam acampados na área tentando proteger as árvores que lá existiam por mais de 40 anos e que compunham um cenário muito querido para a população. Um ofício entregue por oficial de justiça volta das 18 h no dia 28, dava prazo de 48 h para a desocupação, sob pena do uso de força policial para a remoção, caso o mandado não fosse cumprido. Mas, ignorando isso e a vontade da comunidade, a prefeitura acionou a Brigada Militar para dar início à desocupação em plena madrugada do dia 29, a partir das 4 h. Tratando os manifestantes como bandidos, eles foram presos e algemados.
Manifestantes tiveram noite de tensão antes da desocupação do acampamento para corte de árvores  Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Fotos do blog ClicRBS
  

          A ideia foi fazer a desocupação de surpresa, impossibilitando qualquer tipo de manifestação de solidariedade por parte de quem apoia a causa, mas não estava no acampamento. Sebastião Melo, prefeito em exercício, já que Fortunatti estava em viagem para os Estados Unidos, justificou a ação pela segurança aos manifestantes e à própria Brigada Militar (!).
         Fora isso, parte da imprensa local,  que apoiou a ação, argumentando que os manifestantes tinham que aceitar a decisão judicial, esquece que a criação do Parque Corredor do Gasômetro está prevista no plano diretor, isto é, na lei. A composição do parque, com a inclusão das Praças Brigadeio Sampaio, Júlio Mesquita, Ponta do Cais Mauá e Orla do Gasômetro, precisa apenas da edição de uma lei, que não é feita também por outros interesses, bem menos explícitos. O alargamento da avenida vai descaracterizar o projeto planejado para o parque, pois vai cortá-lo ao meio por uma via expressa, deixando a orla separada da área verde. E o desrespeito à essa decisão é aceitável?
         Porto Alegre foi colocada na contramão da perspectiva de cidade sustentável. A concepção de cidade-mercadoria vem predominando nas ações da prefeitura. São obras viárias contrárias ao bom senso, são licenciamentos irregulares, são flexibilizações vergonhosas que beneficiam grandes construtoras, é um descaso generalizado aos porto-alegrenses. Por que não se buscar alternativas? Tanto já foi dito que o alargamento das vias apenas é paliativo, que tem um efeito rebote em poucos anos. Por que não priorizar o transporte coletivo? Por que não estimular o aeromóvel? As bicicletas? Mesmo no caso do Gasômetro, por que não construir uma trincheira (passagem subterrânea) no local, preservando as árvores e área verde? No projeto incensado de Jaime Lerner, existe tal previsão, que nunca foi contestada pela administração pública. Ou seja, existem outros caminhos. Mas talvez não contemplem, por exemplo, a realização da Fórmula Indy. Ou sejam contrários ao lobby das montadoras de automóveis. 
          Estamos todos de luto. As árvores se foram. O parque está ameaçado. A cidade está sendo "vendida" em fatias. Mas não calarão as pessoas que querem uma cidade para todos. Precisamos nos manifestar e nos unir. Temos que usar a rede social, mostrando ao mundo no querem transformar nossa cidade. Compartilhem fotos e textos. E, presencialmente, nos faremos ouvir. Vamos todos à manifestação promovida pela AGAPAN. Será no domingo, dia 2 de junho, às 15h, junto às árvores marcadas para morrer!

5 comentários:

  1. O texto expõe de forma explícita (e as fotos comprovam) os atos de covardia da administração municipal de Porto Alegre contra as árvores e contra a vontade popular. Estamos vivendo numa ditadura opressiva e cruel: a ditadura do mercado econômico. Por favor, continue escrevendo o que o nosso sentimento não consegue expressar em palavras e continue sendo a nossa voz e a de muitos.

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  2. Querida Jacqueline, expressaste o sentimento de todos nós! Parabéns pelo sensível texto e pela divulgação do evento de domingo.

    Bjs,

    Sandra.

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