domingo, 30 de novembro de 2014

Cidade sem memória ou como podemos reverter esse processo

Depois de um período de ausência, aproveitando um vácuo inesperado na agenda e a leitura do excelente artigo do Caderno ZH PrOA "O Brasil é um país belo, mas está se canibalizando", resultado de uma entrevista com Benjamin Moser, eis-me aqui para trazer um assunto que tem sido pauta de muitas discussões que tenho acompanhado.
O artigo citado fala algo que tem sido o ponto comum de muitas mobilizações que vêm ocorrendo aqui em Porto Alegre: "as cidades devem pertencer ao cidadão". Com muita clareza, Moser expõe a tentativa desesperada de apagar a identidade das cidades brasileiras. Ele diz que a a ideia de progresso, empregada para justificar a remodelação urbana, na verdade é a vergonha que se tem do país, de desprezo pelo nacional. Segue expondo sua impressão de que o país está cada dia mais feio e que as pessoas estão muito desmotivadas com tudo o que está acontecendo nas cidades. Entretanto, pondera que não é verdade que nada se pode fazer, citando o movimento Ocupe Estelita, que não classifica como revolucionário, mas um movimento que coloca a questão da cidade para a população.

Não precisamos ir até Recife, para nos depararmos com situação absurdamente semelhante. Falo do Cais do Porto, de sua dissociação com os porto-alegrenses, de um projeto excludente, que tem como base a exploração comercial do espaço público. O cais é um referencial para a população, é o início de nossa história e é um elemento de ligação com o Guaíba, seja ele rio, lago ou estuário. Hoje, ninguém consegue entrar sem autorização expressa do consórcio que gerencia o complexo de pórtico e armazéns. 
Mas, concordando com Moser, podemos fazer algo a respeito. Existem  outras soluções que dialogam com a identidade de nossa cidade, preservando o patrimônio histórico e cultural e democratizando o acesso. É preciso fortalecer o conceito de que a arquitetura é cultura, entendendo que aquilo que for construído hoje, contará nossa história mais adiante. 
Achei fantástica uma frase do artigo que diz "E os intelectuais precisam educar as pessoas para que entendam que um shopping monstruoso não é uma inevitabilidade do destino. É uma escolha política que precisamos rejeitar". Adapta-se perfeitamente à situação do Cais Mauá. Vocês sabiam que o armazém próximo à Usina do Gasômetro, denominado A7, vai ser demolido para dar um lugar a (mais) um shopping à beira do Guaíba, com estacionamento para um sem número de carros? É isso que queremos? 
Não foi uma escolha feita em conjunto com a população. E não podemos nos omitir de participar, de pensar a cidade para seus cidadãos. Assim como no Movimento Ocupa Estelita, aqui existe uma legião de pessoas que busca caminhos para tornar o Cais Mauá um lugar no qual Porto Alegre se reconheça (Ocupe Cais Mauá). São diversos movimento unidos pela causa e que trazem questionamentos ao processo de negócios proposto, bem como projetos arquitetônicos alternativos, nos quais a integração do cais com a cidade e sua toda sua população é o eixo principal.
Por isso, a informação é fundamental neste momento. Informe-se sobre o que está acontecendo, o que está sendo proposto e participe da forma que puder. Existe uma página no Facebook que traz muito material a respeito do processo do cais, a programação proposta para dar visibilidade ao assunto, além de ser um canal de comunicação. 

Links sobre o assunto:
https://www.facebook.com/ocupacaismaua?fref=ts (página Ocupa Cais Mauá)
https://www.youtube.com/watch?v=dJY1XE2S9Pk (para entender o movimento Ocupa Estelita)
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2014/11/benjamin-moser-o-brasil-esta-se-canibalizando-4653001.html (entrevista com Benjamin Moser)