sábado, 26 de julho de 2014

2º Seminário Patrimônio Cultural & Políticas Públicas

Inscrições: http://www.arccov.com.br/inscreva-se/

Parceria de Valter Barbosa & Stephen Messenger

A Ponte de Pedra, no bairro Cidade Baixa
(Foto: Stephen Messenger/Arcervo Museu
Joaquim José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman)

Recebi via facebook um link muito interessante sobre um trabalho fotográfico que funde duas fotografias feitas em diferentes épocas de um mesmo lugar, tendo como protagonista a cidade de Porto Alegre. É um interessante resgate da memória da cidade, perspectiva tão abandonada por esses pagos. Compartilho a reportagem e a galeria de fotos, como divulgação deste resgate histórico.
Para ver a galeria de fotos, clique aqui.







Americano resgata história de Porto Alegre em montagens de fotos



Radicado em Porto Alegre há quatro anos, um jornalista americano está ajudando a resgatar a memória fotográfica da cidade e a propor um novo olhar sobre a capital dos gaúchos. Stephen Messenger, 29 anos, une o passado e o presente em montagens de fotos que retratam pontos de referência da cidade e alguns momentos históricos. 
Ambulância puxada por burros, em frente ao prédio da Prefeitura de Porto Alegre
(Foto: Stephen Messenger/Arcervo Museu Joaquim José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman)


Ainda não batizado, o projeto surgiu há cerca de um ano está sendo publicado no perfil do autor no Facebook. O objetivo do trabalho, segundo o americano, surgiu da necessidade que ele sentiu em mostrar um lado da cidade que costuma passar despercebido pela maioria dos moradores e visitantes da capital gaúcha.

“Faço isso para mostrar um lado da cidade que as pessoas não notam. Você pode comparar as coisas de diferentes épocas. As pessoas estão diferentes, mas os lugares antigos ainda existem. Muitas pessoas vivem ou frequentam eles, mas não sabem o que são ou o que eles representam”, diz Stephen.

As ferramentas do jornalista são apenas um celular, uma foto antiga e um software de edição de imagens. Já o processo de montagem é feito em duas etapas. Primeiro ele busca uma imagem antiga da cidade na internet para depois tentar encontrar algum ponto de referência do passado que tenha resistido à ação do tempo e ao crescimento urbano. Feito isso, ele saca um smartphone do bolso e produz uma nova foto no mesmo ângulo da antiga.

O Mercado Público alagado pela enchente de 1941, os arcos da Avenida Borges de Medeiros, a Ponte de Pedra no Largo dos Açorianos e a Rua General Câmara (localizada no centro histórico da cidade e que era conhecida por Rua da Ladeira no início do século XIX) são alguns dos pontos revisitados por Messenger. Com as imagens em mãos, ele faz o “mashup” (mistura) entre o antigo e o novo registro.

A paixão por fotografia sempre acompanhou o americano. Natural de San Francisco, cidade que fica no estado da Califórnia, Messenger se mudou para o Brasil a trabalho. Ele conta que nunca tinha ouvido falar de Porto Alegre, mas depois de conhecer a cidade mais a fundo, se encantou e resolveu ficar.

“Eu não sabia nada da cidade. Rio de Janeiro e São Paulo recebem mais atenção fora do Brasil. E vi que Porto Alegre é uma cidade muito bonita. Percebi isso depois que resolvi morar nela. As pessoas são mais amáveis e a cultura é fascinante. Porto Alegre merece mais atenção por parte do mundo e espero que o meu trabalho fotográfico espalhe orgulho para os gaúchos”, diz o jornalista.

Resgate histórico na era digital
As imagens históricas que Messenger usa no seu trabalho tem como fonte as pesquisas feitas pelo administrador de redes Valter Barbosa. Os dois não se conhecem, mas juntos estão ajudando a resgatar a história fotográfica de Porto Alegre e a popularizá-la nas redes sociais.

Valter é administrador da página “Porto Alegre (Fotos Antigas)” no Facebook. Criado em novembro de 2011, o espaço é dedicado a mostrar imagens que resgatam a história da cidade. Em três anos de atualizações, a página já conta com cerca de 30 mil seguidores.

“Acho que esse trabalho é de máxima importância, pois todo mundo tem curiosidade em saber como era a cidade antigamente. Seja para percebemos a evolução da nossa capital ou as modificações que ela foi sofrendo com o tempo”, comenta Barbosa.

O material postado tanto por Messenger como por Barbosa não possui fins lucrativos. No caso da página de Barbosa, as imagens são compiladas a partir de blogs, sites de fotos como o Flickr oficial da prefeitura de Porto Alegre e o acervo histórico do Museu Joaquim José Felizardo, entre vários outras fontes.
Inauguração do Viaduto Otávio Rocha, no centro de Porto Alegre, em 1932 e atualmente
(Foto: Stephen Messenger/Arcervo Museu Joaquim José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman)


Enquanto o trabalho de Messenger é mais artístico, Barbosa procura mostrar locais e fatos importantes que marcaram a história de 241 anos da cidade. Mesmo com métodos diferentes, ambos destacam a importância do olhar sobre o passado para a preservação do patrimônio cultural e histórico da cidade e a influência que ele tem na vida das pessoas.

“Eu penso que ver como esse lugares eram há muitos anos conecta as pessoas a uma história que é difícil de ver em decorrência da cara que a cidade possui hoje. Isso nos faz lembrar que Porto Alegre é mais velha do que qualquer construção que aconteceu nos últimos anos. Quando você vê cidades européias como Londres e Paris, por exemplo, se nota que as pessoas que vivem e crescem por lá estão inseridas em um ambiente que remete ao próprio lugar e a sua importância histórica”, conclui Messenger.

Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/10/americano-resgata-historia-de-porto-alegre-em-montagens-de-fotos.html

domingo, 13 de julho de 2014

O braço de plástico da República

A proteção do patrimônio cultural demanda que se tenha um envolvimento com objeto a ser protegido, através do conhecimento histórico, técnico, dos aspectos afetivos envolvidos e de uma cultura voltada ao respeito e valorização do patrimônio. Por isso, transcrevo um texto sobre o assunto escrito pela vereadora Lourdes Sprenger.


O braço de plástico da República
Lourdes Sprenger (*)

A memória histórica urbana de Porto Alegre desaparece a olhos vistos ante a indiferença das autoridades públicas. Este é um alerta que venho fazendo com a colaboração de alguns meios de comunicação, pois a cada dia, a arte pública de Porto Alegre continua abandona à própria sorte. Isto demonstra o grau de barbárie que está a dizimar os traços da nossa cultura. No entanto, é importante destacar que já vem de alguns anos a onda irrefreável de vandalismo, agora associado ao furto de bronze e de cobre.

Tanto é que num mercado de sucata da periferia da Capital foi resgatado o busto de Friedrich Engels, serrado em três partes. O bronze que serviu para emoldurar a figura do filósofo alemão foi vendido a R$ 3,00 o quilo. E o dinheiro, segundo apuraram as autoridades, serviu para compra de crack. Exemplos, porém, são fartos. Só na área do Parque Farroupilha, de onde desapareceu Engels, a falta de câmeras de vigilância e a deficiência dos serviços da Guarda Municipal facilitaram o desaparecimento de outras obras como a cabeça de Chopin, o busto de Annes Dias e, mais recentemente, o do médico alemão Samuel Hahnemann, pai da homeopatia, fixado no parque há 71 anos.
Sem forças para agir diante do vandalismo, Porto Alegre se distancia das cidades em que o patrimônio histórico urbano é admirado e preservado. Aqui, a prefeitura vem gradativamente retirando obras culturais do ambiente urbano para escondê-las dos ladrões e vândalos num espaço escuro e secreto, conhecido como ‘galpão das estátuas’. Por isso, tenho feito gestões junto à Secretaria de Meio Ambiente e à Coordenação da Memória Cultural na tentativa de obter informações e estimular um novo olhar do poder público sobre nosso patrimônio urbano.
Foto: Ricardo André Frantz
Nas minhas andanças para conhecer a real situação da arte urbana da cidade recolhi fatos que bem ilustram o drama de nosso patrimônio. Por exemplo: A República – estátua que faz parte do monumento a Barão do Rio Branco, na Praça da Alfândega - permaneceu longo período sem um dos braços. O mesmo foi refeito, com material original. Durou apenas 15 dias e foi novamente arrancado. 
Foto: Ricardo André Frantz
Por fim, os restauradores decidiram por um braço de matéria plástica. A solução custou R$ 3,00 (mesmo valor pago aos ladrões pelo quilo do bronze de Engels) e a República continua milagrosamente intocada desde então.






(*) Lourdes é moradora da Zona Sul e vereadora de Porto Alegre. Texto originalmente publicado no blog da vereadora: http://lourdesvereadora.blogspot.com.br/2014/03/o-braco-de-plastico-da-republica.html#more.