domingo, 28 de abril de 2013

Bonde sobrevivente

          Histórias interessantes de preservação na Zona Sul. Um bonde da Carris, que ia virar sucata, foi salvo por duas bravas lutadoras da comunidade, Angela Ponsi e Zilka Ponsi, que se propuseram a resgatar tal preciosidade. Imaginem só a aventura que foi trazer, em 1998, um bonde de 13 metros do Lami até a Av. Otto Niemeyer, na Tristeza. Mas, com boa vontade e persistência, consegue-se milagres. Atualmente, ele repousa soberano num terreno que abriga um espaço voltado para o artesanato e cultura, chamado Atelier do Bonde.
          Hoje, dia 28 de abril, está acontecendo o bazar do dia das mães, onde vários expositores da região se reúnem para mostrar seu trabalho. É uma iniciativa louvável, pois o comércio de rua e os comerciantes do bairro têm espaço de atuação, principalmente se levarmos em conta o poder do shoppings center espalhados pela cidade e crescendo em número de forma alarmante. A nossa identidade está aqui e, assim como o bonde, precisa ser preservada. Nossas características e vivências são transcritas nos trabalhos que nossos artistas e artesão desenvolvem. É nossa cultura e história sendo escritas pelas mãos de nossas comunidades. 
        Se vocês quiserem conhecer um pouco mais desta história, existe um site e um blog, contado o passado e o presente dessa iniciativa. Preservar prédios e costumes é preservar nossa memória e história.

 





Fontes:
http://atelierdobonde.com.br/
http://atelierdobonde.blogspot.com.br/

sábado, 27 de abril de 2013

Constituinte do cotidiano

          Tem muita gente que não sabe, mas Porto Alegre tem um código de posturas (Lei Complementar n. 12), datado de 1975. É uma lei que determina como o cidadão deve se comportar no seu dia-a-dia, quer na relação com seu vizinho, quer em relação à utilização de equipamentos públicos e à própria administração da cidade. Mas, com o passar dos anos e com as velozes modificações dos costumes, tal lei ficou defasada e deve ser revista
       Esse é um marco para repensarmos as complexas relações urbanas, agora à luz de uma nova concepção de sociedade e do novo papel do município dentro das diretrizes de nossa Constituição Federal.
A sociedade está sendo chamada a participar de forma direta na formulação das alterações de maneira que possibilite uma maior adesão da população àquilo que for pactuado. Existem 10 grupos temáticos que tratarão questões relacionadas com lazer, turismo, cultura, sossego e vizinhança, logradouros públicos, meio ambiente, justiça restaurativa, participação, colaboração e voluntariado, entre outras. Também, já estão agendadas audiências públicas para que, formalmente, a população seja ouvida. Já no dia 14 de maio, às 19h, no Plenário Ana Terra da Câmara dos Vereadores, acontece a primeira audiência pública, que tratará dos logradouros públicos.
        Anterior às audiências, estão sendo convocadas reuniões informais, onde grupos apontam pontos importantes, que devem estar no novo Código de Convivência Urbana. No eixo da Participação, Colaboração e Voluntariado, por exemplo, o pessoal do PortoAlegre.cc coordenou o encontro no sábado, dia 27 de abril, às 10h30, num espaço aberto no Parque Marinha. Lá, algumas ações foram apontadas para dar início e visibilidade ao processo de envolvimento dos cidadãos ao projeto de reestruturação da lei. O tema tolerância e respeito foi um dos trazidos e que pode ser aplicado a qualquer situação de nosso cotidiano. Será um reaprendizado de convivência, que deverá trabalhar o conceitual, preparando agentes públicos e população para efetivar o código de convivência. A primeira ação que propiciará a discussão e prática do convívio urbano será a terceira edição da Serenata Noturna na Redenção. Será um ponto de partida, no qual a ocupação do espaço público poderá ser exercitada, além de debater assuntos como a segurança pública, cultura, patrimônio, meio ambiente, direitos e deveres para com a cidade. 
          Hoje, Antes de sair para participar da reunião de voluntários do PortoAlegre.cc (veja o blog), li a coluna da Cláudia Laitano, que me fez ter mais certeza da importância do fazer, além do pensar. A colunista destaca em sua crônica Os intelectuais, que foi divulgada uma lista em uma revista britânica com o nome de 65 intelectuais, que além de serem referência  de excelência em suas áreas, fazem questão de atuar nas redes sociais, entre outros meios, colaborando para informar e esclarecer as discussões sobre temas polêmicos.
          É só assim que vamos construir a cidade que queremos ou, como ouvi também hoje de manhã, a cidade que podemos. Como já disse em outras ocasiões, somente com a ampla participação das pessoas, que se dá em todos os canais disponíveis, seremos capazes de tornar a cidade mais próxima daquilo que queremos. Agora, existe essa ótima oportunidade de fazermos o que nos cabe. Temos espaço e ideias. Devemos atuar de forma decisiva, levando nossas opiniões e sugestões, criando uma base sólida e representativa para que, na fase de aprovação legislativa, o nosso projeto de construção de Porto Alegre não seja ignorado.


domingo, 21 de abril de 2013

Construindo Porto Alegre

          Se compete à administração municipal fazer leis sobre os assuntos de interesse local, pois é no dia-a-dia da cidade que a vida acontece, essa lógica também se aplica aos bairros ou regiões da cidade que têm determinadas características que os une. Esses laços podem ser originários de um passado comum, de aspectos geográficos, da própria urbanização que determinou aqueles espaços, entre outras possibilidades. São vínculos, que reforçados, acabam forjando a identidade desses espaços e criando um sentimento de pertencimento que une as pessoas em busca de um bem comum.
       Em Porto Alegre, podemos rapidamente citar alguns exemplos onde reconhecemos, com facilidade, essa identidade. O Bom Fim, sem dúvida, é um caso. São suas edificações, sua proximidade com o Parque da Redenção e com o campus universitário, com o grupo étnico que se estabeleceu nos primórdios da sua formação, que compõem o que o bairro é hoje.
        A Zona Sul, de maneira um pouco mais ampla, é outra região que também tem muito forte esse senso de identidade. Seu vizinho mais ilustre, o Guaíba, e a vasta vegetação, aliados com uma menor densidade populacional, determinaram áreas com construções predominantemente horizontais, muitas originárias das antigas casas de veraneio, o que também contribuiu para dar ao lugar um "ar" mais descontraído, e com características da imigração italiana e alemã. Bairros como a Vila Assunção e a Vila Conceição, são resultados de um projeto de urbanização, o chamado modelo de cidade-jardim, com ruas de traçado peculiar e amplos espaços reservados para áreas verdes. 
       Assim, a cidade é o conjunto de todos esses espaços, que devem ser reforçados como unidades, pois ali são vivenciadas as dificuldades, necessidades e celebrações. E isso vem acontecendo através de atividades propostas por grupos que atuam nas comunidades. Podem ser grupos virtuais, como é o caso do Projeto Vizinhança, ou formalmente estabelecidos, como o Grupo de Empresários da Tristeza (GET).
     O primeiro, já com alguns eventos realizados, trabalha no sentido de, segundo o grupo, "ocupação temporária de espaços ociosos através de projetos artístico-culturais. Estes equipamentos efêmeros têm como objetivo oportunizar novas experiências e aprendizados assim como estimular encontros e trocas." São eventos que propiciam a convivência entre as pessoas da comunidade, que, embora inicialmente focados em arte e cultura, acabam ampliando o poder de revindicação e de mobilização necessárias à construção da cidade. O próximo evento se dará em 27 de abril, dia do vizinho, no bairro Petrópolis. Visitem a ideia clicando aqui.
     Já o GET, está realizando, nesse fim de semana (19 a 21 de abril), a II Feira do Livro da Zona Sul. Também é um evento que se propõe a trazer cultura (e livros) à praça, proporcionando a convivência de pessoas não só do bairro Tristeza, onde é localizada a feira, mas de grande parcela da região sul. O clima ajudou bastante nos dois dias iniciais e muita gente vêm participando.

       


     São formas de usufruir espaços e formar uma consciência coletiva, a noção de que podemos mais, se nos conhecermos e tivermos objetivos comuns. E isso é muito importante para o exercício do direito à cidade, que deve ser o mesmo para todos. As lutas estão sendo travadas. Vejam a vitória em relação ao valor das passagens de ônibus e da decisão temporária sobre a suspensão do corte das árvores do Gasômetro (tem uma ação nesse fim de semana - clique aqui). Mas muito ainda há a fazer, como lutar pela manutenção da Orla do Guaíba para sua população e pela preservação da memória da cidade através da preservação do seu patrimônio histórico e cultural. Vamos construir Porto Alegre.

domingo, 14 de abril de 2013

Transparência nas informações às demandas da população

          No sábado, dia 13 de abril, fui convidada a participar de uma série de entrevistas denominada "Encontro com o Meu Bairro", promovida pela Revista meuBairro, da Zona Sul, a convite de Letícia Demoly de Mellos. A proposta foi gravar entrevistas, que posteriormente estarão disponíveis na internet, com pessoas formadoras de opinião para discutir assuntos importantes e pertinentes à Zona Sul. Assim, a ideia era tentar responder algumas questões como Sai ou não do papel a reforma do Posto de Saúde da Tristeza? Pontal do Estaleiro Só: benefícios ou prejuízo para Porto Alegre? Por que o Estado não diz sim ao projeto do Centro de Eventos no Morro Santa Tereza? Também conversar sobre a Feira do Livro da Zona Sul, Quando a união muda a paisagem da Capital e O futuro incerto do Centro Cultural Zona Sul. Esse último tema foi o que me coube, posto que há algum tempo venho brigando pela criação de um centro de cultura no espaço onde anteriormente funcionava o Fórum Regional de Justiça e, ainda nos anos 70, foi a fábrica e atelier do Artesanato Guarisse.
         Foi um evento muito interessante e que suscitou duas importantes perguntas entre alguns dos entrevistados e que agora eu repasso ao leitores, em especial, aos cidadãos de Porto Alegre: por que algumas demandas simplesmente desparecem da pauta da prefeitura ou do governo estadual e a necessidade urgente de alterar a forma de participação da população. Sobre essa última, alguns passos que estão sendo dados em direção a uma nova forma de participação já foram objeto de análise aqui no blog. Trata-se de grupos formados a partir das redes sociais e que têm a internet como ferramenta para mobilização. São atuações diretas do cidadão em problemas mais restritos, do bairro, de algo pontual, como limpeza de um lugar ou solicitação de algum serviço ineficiente ou inexistente.
             A segunda pergunta foi mais difícil. Achar uma resposta plausível para a paralisação da trajetória de demandas importantes da população. O Centro Cultural da Zona Sul é um desses casos. Há anos, a comunidade vinha postulando a criação do espaço, foi ouvida por algumas autoridades, incluídos governadores  vereadores, secretários municipais e estaduais, e muitas promessas foram feitas. Mas sem a menor explicação, o local foi "partilhado" e parte cedida para entidade alheia à comunidade, impossibilitando o projeto que previa inclusive um teatro no local. Mesmo após esse episódio, alguns acordos foram assinados, colocando prefeitura e governo do Estado em parceria num condomínio cultural. Mas, o tempo foi passando e a possibilidade de concretizar o sonho foi ficando cada vez mais distante. Até que não mais se falou no assunto. 
         O caso do Centro de Eventos no Morro Santa Tereza é um outro exemplo. Muito se falou sobre o assunto. O escritório do Oscar Niemayer, que ficaria responsável pelo projeto, expressou sua preferência pelo local no ano passado. Era a tendência, entre as opções apresentadas pelo governo do Estado — concorriam ainda o Centro Vida (bairro Sarandi, na Zona Norte) e a Doca Turística (bairro Navegantes, na Zona Norte). Tempos depois, a construção havia ficado entre o Morro Santa Tereza e o Parque de Exposições de Esteio. De forma inexplicável, uma terceira opção, estranha às duas finalistas, mostra-se a possível vencedora e, agora, apesar de ser uma área do Governo de Estado, a prefeitura tem o poder de decisão. 
       São dois exemplos de falta de transparência das administrações públicas, deixando a população sem respostas às suas demandas e sem saber quais são os obstáculos que impedem a implementação de projetos importantes para a sociedade.



Fonte: https://www.facebook.com/meubairropoa?fref=ts
          http://meubairropoa.com/

sábado, 6 de abril de 2013

Quando construir significa demolir: Pontal do Estaleiro

          Depois de mais de três anos, retorna à discussão a polêmica da área do Estaleiro Só. Exemplo de resultado de gestões que privilegiam a privatização dos espaços públicos, o projeto da BM Par Empreendimentos e Debiagi Escritório de Arquitetura já está sendo analisado pela Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (CAUGE) e chegou ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental (CDMUA), como projeto especial para avaliação e posterior aprovação. Um pouco diferente daquele que foi divulgado na época, o projeto Parque do Pontal traz um edifício de 80 metros de altura (equivalente a cerca de 24 pavimentos) circundado por edificações de 9 metros de altura que abrigarão um centro comercial (sempre!), um hotel, um prédio comercial e uma loja Leroy Merlin.
Foto: Ivo Gonçalves/PMPA

                  As perspectivas sobre a questão não são boas. Sobre o aspecto jurídico, recentemente, a Ação Popular proposta por Caio Lustosa, Tânia Faillace e outros, questionando inúmeras irregularidades da transação que envolve a área, chegou ao Tribunal de Justiça do RS, onde foi julgada e confirmada a sentença de primeira instância, que extinguiu a ação por julgar que os autores não têm legitimidade para a proposição (mais informações RS Urgente). O próximo movimento será interpor recurso ao STJ questionando mais uma vez a decisão.
             Enquanto isso, a sociedade civil, impulsionada pelos resultados do movimento contra o aumento das passagens de ônibus, busca organizar-se na defesa dos espaços públicos, priorizando o conjunto de áreas que constituem a Orla do Guaíba. No dia 5 de abril, na sede do IAB, realizou-se uma reunião para discutir o termo de referência sobre o projeto Parque do Pontal, do qual o IAB é a entidade relatora no CDMUA, buscando analisar todos os aspectos o projeto, destacando possíveis irregularidades. Além disso, foi consenso que é imprescindível recuperar elementos do planejamento da cidade, reconstruir os espaços de ação e de defesa da cidadania, ocupando literalmente esses espaços, numa mobilização popular intensa e fortemente organizada, dando visibilidade à pauta da cidade de Porto Alegre.
        A implantação do referido projeto, somado a outro que prevê a construção de 19 torres de edifícios na área das cocheiras do Jockey Club - também eivado de irregularidades - , vai alterar profundamente a paisagem urbana a partir da orla, impactando negativamente o meio ambiente, deixando sem discussão questões como contaminação do solo, problemas de mobilidade urbana e intervenção em área de especial interesse cultual (AEIC), entre outras.
       Certamente não será fácil qualquer participação popular nos rumos do Pontal do Estaleiro, fatia de uma área muito cobiçada pelos negócios imobiliários. Uma amostra foi a audiência pública ocorrida no começo do mês, relativa à área do Jockey Club, que pouca divulgação teve e que, como bem analisou Raquel Rolnik em seu blog, cumpriu apenas o papel de legitimar atos e ações de interesse da administração (ou da iniciativa privada, que muitas vezes se confunde). A questão do Pontal ainda tem o agravante de ter amparo legal, ainda que possamos questionar eticamente tal legislação, tornando difícil barrar a construção do complexo no local, considerando o que o Direito chama de segurança jurídica do contrato firmado pela  BM Par Empreendimentos. 
       Embora seja uma luta que apresente muitas dificuldades, como o poder econômico e político envolvidos e a visão compartilhada por uma boa parcela da população de que essa é a forma efetiva de revitalizar o local, não podemos permanecer de braços cruzados. Trata-se da cidade que queremos agora e no futuro. O primeiro passo é levar as informações ao maior número possível de pessoas. Só assim, construiremos um movimento sólido, que represente os interesses da população e que dela seja a voz. A mobilização começa AGORA!

Foto: Reunião sobre o termo de referência na questão do Pontal do Estaleiro Só, agora no IAB.
Reunião no IAB (05.04.13)


Fontes: Sul 21 , RS Urgente e Raquel Rolnik