Uma das últimas lembranças que tenho com meu
avô, quando ele ainda estava bem de saúde, foi pegar um bonde, cujo destino não
tenho o registro. Já havia sido noticiado o fim dos veículos esquisitos, que
andavam agarrados aos trilhos e a fios elétricos, e aquelas seriam as suas
últimas viagens. Depois, com o tempo, as marcas dos trilhos nas ruas foram
desaparecendo, cobertas pelo asfalto, e a garagem da Carris, que ficava perto do
Parque da Redenção, foi demolida, para dar lugar a avenida, celebrando os
automóveis, novos astros de uma era.
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Foto: http://www.carris.com.br/default.php?p_secao=71 |
Minhas memórias confundem-se com as memórias
de Porto Alegre. E assim como para mim, a lembrança dos bondes são os registros
de uma época em que a cidade ansiava pela modernidade, vislumbrada pela vinda
dos veículos a diesel e gasolina. Mas os bondes transformaram-se em marcos
referenciais da vida da população até 1970, quando o último bonde parou.
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Fonte https://www.facebook.com/pg/atelierdobonde/photos/?ref=page_internal |
A medida em que os anos foram passando,
aqueles veículos sem uso, foram sendo sucateados, desmanchados e esquecidos.
Alguns tiveram uma vida mais longa, ocupando local de destaque em escolas da
capital. Mas um, em especial, teve brilho ainda maior, agregando criatividade e
memória: o bonde da Tristeza. Por anos, serviu como palco da arte e da cultura,
do fazer artístico, da fruição, do encontro das pessoas com a sensibilidade na
zona sul da cidade.
Um dia, teve que sair da sua já tradicional
morada, correndo sério risco de se perder, como os demais. Angela Ponsi e sua mãe, Zilka, que já o tinham salvo uma vez, persistem em sua proteção, dando-lhe novo destino e buscando a sua merecida recuperação.
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Angela é a autora do projeto de restauração do bonde, que deverá acontecer com recursos da Lei Rouanet, de incentivo à cultura. É um projeto muito relevante para a cidade, tendo em vista que este é um dos últimos remanescentes da frota e que se encontra em razoável estado de conservação. Ele representa nossa memória viva e é fonte de referência, para os que vieram e virão depois de nós.
Porto Alegre precisa se reconhecer através
daquilo que lhe representa: somos a Usina do Gasômetro, somos o Cais Mauá e o
Guaíba, somos o Parque da Redenção. Esta é a nossa identidade. E os bondes eram
personagens importantes da história desta cidade, que não precisa e nem pode
deixar de ter a sua personalidade, para alcançar o desenvolvimento tão almejado.
Assim, a notícia do projeto de restauração do
Bonde da Tristeza é um grande alento e alegria não só para a zona sul, mas para
nossa cidade, tão carente de auto-estima. E esse bonde é um destes referenciais
que nos tocam a alma e nos ajudam a conhecer nossa trajetória. Vida longa ao
bonde!!!!!!Outras matérias:
http://www.meubairropoa.com/zona-sul/tristeza/atelier-do-bonde-elabora-projeto-de-restauracao-de-locomotiva/?fbclid=IwAR0kbyZ3OkTH1jMhKcgK-Yx_6hn2jGeLc8PPy2xduSqfMoo_pIJ7ZyYokg0
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2256628137916012&id=349960648405663
Cara Jacqueline, teu texto tão bem escrito expressa muito bem o meu sentimento em relação a este trecho tão importante da história de Porto Alegre. Muito obrigada pelas tuas palavras e pelo apoio ao #projetobondehistórico!
ResponderExcluirPorto Alegre é que tem que agradecer a luta de tua mãe e a tua para conservar este tão expressivo representante da memória coletiva da cidade! Parabéns pela luta! #projetobondehistórico!
ResponderExcluirO projeto Restauração do Bonde Histórico e criação de espaço cultural foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal e está em fase de captação de recursos. Veja detalhes do projeto no sitehttps://angelaponsi.wixsite.com/bondehistorico
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