terça-feira, 8 de abril de 2014

Inventário de Petrópolis: carta de um morador ao EPAHC

                 Nas últimas semanas, um assunto tem causado polêmica na cidade. A listagem de imóveis inventariados que, a partir disso, recebem proteção. O bairro de Petrópolis teve cerca de 300 imóveis nessas condições, o que reflete não só a preocupação do município com a preservação do patrimônio cultural da cidade, mas também com a qualidade de vida. Abaixo, transcrevo a carta de um morador de Petrópolis, que traz argumentos contra a indignação de alguns proprietários, que receberam informações de pessoas ligadas à construção civil e que, por óbvio, tem interesses opostos à preservação das edificações.

Aproveito e deixo o convite para que se engajem na luta pela preservação da memória de Porto Alegre, assinando e ajudando a divulgar o abaixo-assinado de apoio ao Inventário de Petrópolis. Para assinar, clique INVENTÁRIO DE PETRÓPOLIS.



Foto de Isadora Quintana: Casa da Estrela – Rua Camerino, 34 (Jornal Mais Petrópolis)

Ao EPAHC. 

Espero conseguir chegar à equipe através deste e-mail.

Sou morador do bairro Petrópolis, advogado e servidor público de município da região metropolitana. 

Resido em Petrópolis há mais de 30 (trinta) anos, sou proprietário de casa no bairro e minha família também é proprietária de outra casa na região. Temos, portanto, 2 (dois) imóveis (casas) no Petrópolis.

Assim, é com satisfação que parabenizo o trabalho de inventário de imóveis do bairro e registro o meu apoio à medida administrativa em comento, cujos reflexos vão muito além da simples preservação de imóveis, eis que vem em encontro à preservação da paisagem, da cultura, da arquitetura, do ar, da avifauna e do trânsito e espaço público no bairro, contribuindo sobremaneira para a qualidade de vida em Porto Alegre. 

Contudo, infelizmente, tenho observado irresignação de alguns proprietários de imóveis abarcados pelo inventário. 

A contrariedade em questão, pelo que observei de debates em fóruns da internet e, sobretudo, em recente encontro na Praça Mafalda Veríssimo, restringe-se a alguns proprietários (em um número que não chega a 20% do número de bens inventariados), muitos, em geral, idosos, que temem por desvalorização, argumento este instigado por integrantes da construção civil infiltrados no grupo, apoiados por políticos que encontraram na questão uma oportunidade para exposição junto a este grupo de moradores. 

Preocupa-me que uma movimentação deste tipo, possa alcançar outros proprietários e outros segmentos da sociedade, considerando-se a fragilidade de muitos que se deixam levar por argumentos referentes à alegada desvalorização dos bens e do entorno.  

Petrópolis tem suas peculiaridades que lhe caracterizam e merecem ser preservadas. Ainda há no bairro muito a ser preservado, características estas que mesmo a explosão imobiliária das últimas décadas não conseguiu descaracterizar, destarte, é fundamental a medida do inventário que mantém o que há de mais importante para Petrópolis continuar existindo com suas características próprias e tão valorizadas.

Na verdade, uma visão mais acurada, claramente demonstra que o inventário não implicará em desvalorização para os proprietários das casas objeto da listagem.

Isso porque, Petrópolis jamais deixará de ser requisitado e valorizado justamente por manter suas características originais, ruas arborizadas, casas ajardinadas, árvores frutíferas nos pátios, arquitetura de casas modernistas, art. déco e colonial espanholas/californianas em conjuntos de residências, que se encontram, sobretudo, no eixo Av. Protásio-Av.Ipiranga. 

Estas casas são referências do bairro, que somados à localização privilegiada e natureza mista e autônoma - residencial/comercial - caracterizam e valorizam a região; some-se a isso, a própria existência dos edifícios das últimas décadas, os prédios de alto padrão. Isso porque, não se pode negar que, ressalvadas exceções, algumas das novas edificações acabaram por valorizar o bairro, conferindo-lhe movimento e refinamento.

Entretanto, a construção desses prédios deve ser moderada, de modo a respeitar as características originais do bairro que o valorizam e, neste contexto, é que sobrevém com perfeição a figura do inventário dos imóveis. 

Ou seja, Petrópolis se valoriza com os inventários, pois permanece aberto às modernizações e alterações. Isso porque, não obstante o inventário de algumas casas, há muita área ainda para se edificar no próprio bairro, cabe lembrar que é dos maiores bairros da capital, mas garantindo sua sobrevivência com reserva de suas características que o fazem admirado e requisitado para moradia. 

As casas inventariadas como de estruturação e compatibilização, ademais, não implicam na tão alardeada desvalorização.

Não há dúvida, mas poucos ainda têm esta visão em Porto Alegre, de que tais imóveis oferecem muito mais recursos que os apartamentos de meio metro quadrado vendidos por centenas de milhares de reais por oferecerem piscina ofurôs, academia e demais itens comunitários, além da alardeada falsa segurança. 

Esta ideia de que as casas valem unicamente pelo terreno e não pela qualidade de vida que proporcionam é situação há anos trabalhada pela construção civil no fito de levantar terrenos para mais e mais construções, pensamento este que, infelizmente, está arraigado em muitos proprietários de casas, sobretudo os menos atentos à astúcia dos especuladores do mercado imobiliário.  

De mais a mais, a partir do inventário, fica a segurança de que não haverá, frente às casas inventariadas, desvalorização proveniente de lote lindeiro, tal qual ocorrido com muitas residências e até edifícios, maculados por construções vizinhas que lhe tiraram a claridade, privacidade e conforto.

Cabe lembrar, que muitos proprietários de casas já se depararam com seus bens cercados por edificações construídas nas divisas ou em altura desproporcional onde antes havia pátio com farta vegetação, tolhendo-se a iluminação, estética e privacidade, ocasionando – este fato sim – expressiva desvalorização imobiliária do bem. 

Perdurando o inventário, o mercado continuará buscando o bairro Petrópolis, justamente pela preservação de suas características que o fazem visado, para os quais, sem dúvida, as casas inventariadas em muito contribuem.


Com isso, se valorizarão todos os imóveis existentes no bairro, em decorrência de um princípio mercadológico básico, qual seja: a diminuição da oferta frente ao contínuo aumento da demanda por moradias no bairro. Assim, as casas retornarão a ser valorizadas como bens aptos à atualização e restauração para fins de moradia e ainda, se estará evitando a saturação de imóveis e trânsito nesta região. 


De outra banda, não prospera qualquer argumento de que Petrópolis ficará abandonado ou estagnado, pois há muito já detém autonomia, comércio e elevado fluxo de pessoas e veículos decorrentes do grande número de edificações multifamiliares que vêm sendo construídas na região e do aumento de áreas reservadas à atividade profissional e comercial. 

Por sua vez, com a limitação de novas construções nas áreas inventariadas, as casas por sua condição de imóveis de estruturação ou compatibilização, estarão resguardadas de depreciações oriundas de construções em lotes contíguos e se ressaltarão como opção para investimento de moradia familiar e não apenas como um conjunto de lotes aptos à demolição e construção de edifício.

Ainda, os imóveis já existentes, casas e apartamentos, não listados, por estarem inseridos neste contexto de área preservada terão seus valores maximizados.

Em suma todos ganham e ganha a qualidade de vida da capital. 

Att.,

Álvaro Jôffre Souza Arrosi.


8 comentários:

  1. Infelizmente, o signatário desta carta não tem noção do que está falando. Muito provável que os imóveis de que comenta que possui no bairro Petrópolis não foram inventariados! Onde seriam? Pode dar os endereços para que o EPAHC corrija o equívoco?
    Não percebeu o nobre apoiador do EPAHC que poucas pessoas foram ao manifesto da praça Mafalda, pois até agora, muitos proprietários desconhecem o inventário, pois foi feita uma notificação sorrateira e obscura, através do DOPA (Que inclusive só existe por meio eletrônico).
    Além disso, se dependesse de sua análise econômica, morreria de fome!
    Sorte que este cidadão é funcionário público!

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  2. Alguém sabe que uma das fundadoras deste blog tinha uma casa na esquina das ruas Itaboraí com Machado de Assis e sua família permutou com uma construtora? Depois disso, virou ativista contra a demolição de casas? Providencial!

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  3. Maravilhosa ideia a da preservação!
    Basta a prefeitura desapropriar os imóveis pelo preço de mercado, ou as associações que preconizam o tombamento juntar recursos para fazê-lo.

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  4. Caro Fagner Fraga,
    Esse blog pertence apenas a uma pessoa, que não mora e nunca morou em Petrópolis, como afirmas. Seria bom te informar bem antes de acusar sem fundamento. Aliás, sempre fui defensora do patrimônio, não é de agora.

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    1. Ficou pior ainda o teu comentário. Apenas queres que as pessoas conserve os bens até os fins dos tempos para maravilhar os teus olhos, já que essa prefa não consegue nos bens publicos.

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  5. Sou arquiteta e fundadora de uma associação histórica, artística e cultural (Amigos do Bonde) na Zona Sul de Porto Alegre, que está em vias de registro. Há mais de uma década, preservamos um antigo bonde da Carris nos limites de uma ateliê de artes na Av. Otto Niemeyer. Nosso espaço é visitado por escolas e entidades, as quais nos procuram para conhecer um pouco da história de Porto Alegre. Sou seguidora do Movimento Chega de Demolir Porto Alegre e defensora do patrimônio histórico. Apoio o Inventário de Petrópolis e o trabalho do EPHAC. Como proprietária e mantedora de um bem histórico, conheço a dificuldades dos proprietários no que se refere à manutenção. Acredito que devemos buscar uma atualização na lei para que os proprietários recebam um maior incentivo para a preservação e apoio dos órgãos responsáveis. Muitos bairros históricos de Porto Alegre estão se mobilizando junto com o Poder Público para restaurar seus imóveis e revitalizar as principais ruas para conferir maior valorização imobiliária, sem precisar vender. Muitos compreenderam que é possível o retorno financeiro se houver valorização histórica e cultural, vide exemplo do Bairro Moinhos de Vento, onde há muita procura pelas casas históricas para um comércio mais refinado e espaços culturais, além de incentivo ao turismo. Garanto que é um grande engano acreditar que os imóveis inventariados sofrerão desvalorização. Pode ocorrer exatamente oposto: aumentar a demanda do comércio por imóveis antigos, desde que o bairro assuma uma identidade histórica e turística, capaz de atrair outros tipos de investidores.

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  6. A tes que eu tenha que ler mais algum comentário absurdo, venho comentar que na minha rua, que possui apenas duas quadras, tem dois imóveis de 2 (DOIS) anos. Isso mesmo, DOIS imóveis que acabaram de ser construidos. São escritórios de piqueno volume. Onde está a HISTÓRIA e CULTURA neles. É um trabalho scarnio. Não acredito que possa ter respostas para esse comentário, apenas será apagado. Por isso estou tirando uma foto da publicação.

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  7. Seria bom se a prefeitura, talvez conveniada com o Estado e o Governo Federal, utilizasse essas casas importantes historicamente e culturalmente para programas de acesso à moradia. Em vez de construir do zero casas iguais no fim do mundo, alojam as famílias nessas casas bonitas reformadas.

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