domingo, 21 de abril de 2013

Construindo Porto Alegre

          Se compete à administração municipal fazer leis sobre os assuntos de interesse local, pois é no dia-a-dia da cidade que a vida acontece, essa lógica também se aplica aos bairros ou regiões da cidade que têm determinadas características que os une. Esses laços podem ser originários de um passado comum, de aspectos geográficos, da própria urbanização que determinou aqueles espaços, entre outras possibilidades. São vínculos, que reforçados, acabam forjando a identidade desses espaços e criando um sentimento de pertencimento que une as pessoas em busca de um bem comum.
       Em Porto Alegre, podemos rapidamente citar alguns exemplos onde reconhecemos, com facilidade, essa identidade. O Bom Fim, sem dúvida, é um caso. São suas edificações, sua proximidade com o Parque da Redenção e com o campus universitário, com o grupo étnico que se estabeleceu nos primórdios da sua formação, que compõem o que o bairro é hoje.
        A Zona Sul, de maneira um pouco mais ampla, é outra região que também tem muito forte esse senso de identidade. Seu vizinho mais ilustre, o Guaíba, e a vasta vegetação, aliados com uma menor densidade populacional, determinaram áreas com construções predominantemente horizontais, muitas originárias das antigas casas de veraneio, o que também contribuiu para dar ao lugar um "ar" mais descontraído, e com características da imigração italiana e alemã. Bairros como a Vila Assunção e a Vila Conceição, são resultados de um projeto de urbanização, o chamado modelo de cidade-jardim, com ruas de traçado peculiar e amplos espaços reservados para áreas verdes. 
       Assim, a cidade é o conjunto de todos esses espaços, que devem ser reforçados como unidades, pois ali são vivenciadas as dificuldades, necessidades e celebrações. E isso vem acontecendo através de atividades propostas por grupos que atuam nas comunidades. Podem ser grupos virtuais, como é o caso do Projeto Vizinhança, ou formalmente estabelecidos, como o Grupo de Empresários da Tristeza (GET).
     O primeiro, já com alguns eventos realizados, trabalha no sentido de, segundo o grupo, "ocupação temporária de espaços ociosos através de projetos artístico-culturais. Estes equipamentos efêmeros têm como objetivo oportunizar novas experiências e aprendizados assim como estimular encontros e trocas." São eventos que propiciam a convivência entre as pessoas da comunidade, que, embora inicialmente focados em arte e cultura, acabam ampliando o poder de revindicação e de mobilização necessárias à construção da cidade. O próximo evento se dará em 27 de abril, dia do vizinho, no bairro Petrópolis. Visitem a ideia clicando aqui.
     Já o GET, está realizando, nesse fim de semana (19 a 21 de abril), a II Feira do Livro da Zona Sul. Também é um evento que se propõe a trazer cultura (e livros) à praça, proporcionando a convivência de pessoas não só do bairro Tristeza, onde é localizada a feira, mas de grande parcela da região sul. O clima ajudou bastante nos dois dias iniciais e muita gente vêm participando.

       


     São formas de usufruir espaços e formar uma consciência coletiva, a noção de que podemos mais, se nos conhecermos e tivermos objetivos comuns. E isso é muito importante para o exercício do direito à cidade, que deve ser o mesmo para todos. As lutas estão sendo travadas. Vejam a vitória em relação ao valor das passagens de ônibus e da decisão temporária sobre a suspensão do corte das árvores do Gasômetro (tem uma ação nesse fim de semana - clique aqui). Mas muito ainda há a fazer, como lutar pela manutenção da Orla do Guaíba para sua população e pela preservação da memória da cidade através da preservação do seu patrimônio histórico e cultural. Vamos construir Porto Alegre.

4 comentários:

  1. PARABÉNS PELA MATÉRIA !

    * Jacqueline, a importância destes movimentos que AFLORAM DAS COMUNIDADES é que tem AUTONOMIA, não vincula suas atuações ao estado (Municipio,primeira Instância)desta forma as PESSOAS ADEREM por várias razões, "a intenção do fazer" e não o de receber pronto, neste sentido fica bem claro que; A POPULAÇÃO NÃO CONFIA NO ESTADO, então este é o inicio de uma FASE DE REVOLUÇÃO DE IDÉIAS & FAZERES, é um prenúncio de que "O SISTEMA" ESTA SENDO ULTRAPASSADO POR AÇÕES DIRETAS DO POVO.

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    1. Concordo! Um novo tipo de participação está sendo construída, mais independente e, por isso, mais efetiva. Obrigada!

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  2. Jacqueline, parabéns pela forma clara , sensível e competente com que escreveste teu belo texto! A história de cada comunidade congrega, exatamente como disseste, imenso saber! Esse saber, intangível, transcende o tempo e o espaço, num pulsar amoroso sem nenhum outro interesse se não o de preservar e transmitir sua cultura. Continue nos encantando querida! Um beijo, Sandra.

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    1. Fico feliz de poder ver as comunidades, os grupos, as tribos, todos em busca de um bem comum. E a cada dia isso está mais concreto. Precisamos muito dessa mobilização.
      Obrigada! Beijo!

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