O sábado estava nublado e
existia a possibilidade de chuva. Ainda assim, uma festa pela retomada das
passagens de pedestres da Vila Assunção estava em curso. Nada impediu que
moradores, apoiadores e artistas viessem até a servidão que liga a Rua Goitacaz
à Av. Guaíba para defender esses espaços públicos, que são muito importantes
não apenas para a comunidade, mas para toda a cidade. Isso porque a Vila
Assunção está situada numa área de interesse cultural, determinada no plano
diretor, e, assim sendo, conta com uma proteção especial. O bairro foi
projetado dentro do conceito de cidade-jardim, cujo traçado de linhas sinuosas lhe
é característico, assim como um grande percentual de áreas verdes.
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Foto: Verônica Torres |
Por essas características, as
passagens compõem a ambiência do bairro e são imprescindíveis para a mobilidade
dos moradores. Contudo, em 2009, a comunidade foi surpreendida pelo fechamento
de duas passagens que ligavam a Igreja da Assunção, importante patrimônio do
bairro, às margens do Guaíba, patrimônio da própria cidade. A prefeitura, de
forma irregular, oferecia as servidões, bens de uso comum do povo, aos proprietários
dos terrenos contíguos. O assunto foi levado ao Ministério Público, que, em
dezembro de 2009, deu início a um inquérito civil, constatando as
irregularidades apontadas. Como resultado, em dezembro de 2012, foi firmado um
compromisso de ajustamento de conduta com a prefeitura, pelo qual essa se
obriga a contratar um diagnóstico das passagens realizado por uma equipe
composta de profissionais de notável saber no campo da arquitetura e urbanismo
e do patrimônio cultural, que deverá ser finalizado e encaminhado para a
apreciação ao COMPAHC até dezembro de 2014.
Uma das solicitações feitas ao
Ministério Público foi que, junto a essa equipe de profissionais, participasse
a própria comunidade, trazendo o sentimento de pertencimento e afetividade ao
processo. E o evento “Piquenique Julino” foi uma demonstração disso. Os
moradores mantêm uma estreita ligação com esses espaços, pois eles fizeram parte
de suas memórias e história. E através desse ato simbólico, que foi trazer arte
e convívio para uma das passagens, reafirmam seu interesse e vontade de que
elas não sejam privatizadas.
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Foto: Verônica Torres |
É bem verdade que existe uma
pequena parcela de moradores que associa a venda das servidões às questões de
segurança. O que é totalmente compreensível, quando se observa o descaso da
administração pública para com esses espaços. Para que se tenha uma ideia,
desde janeiro, há diversos protocolos para a substituição de lâmpadas na
escadaria em que foi realizado o evento e até o momento, nada foi feito. A
escuridão e a sujeira têm sido obstáculos para a utilização das servidões. Como
contraponto, dentro do bairro, existe um exemplo de passagem bem cuidada e de
intenso uso, situada entre a Rua Cariri e a Av. Pereira Passos.
Assim, o evento promovido pela Associação
dos Proprietários e Residentes da Vila Assunção (APROVA) e pelo coletivo
“Passagem com Arte”, que ocorreu no dia 20 de julho, foi um marco na retomada
dessa importante discussão. O piquenique contou com a participação de muitos
interessados, não apenas do bairro, mas da cidade inteira, na manutenção do
patrimônio público. Entre as pessoas que vieram dar apoio ao movimento, estavam
o presidente da Associação de Amigos do MACRS, Flávio Couto, a vereadora
Lourdes Sprenger e o arquiteto e urbanista André Huyer. Como presente à
comunidade, o artista JOTAPÊ e seus amigos executaram um belíssimo mural em uma
das paredes próximas à Rua Goitacaz. Que esse evento sirva como reflexão sobre
a valorização e a preservação da história e da identidade do bairro, bem como
sobre os caminhos possíveis rumo à construção da cidade que se quer.
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O artista JOTAPÊ iniciando sua obra. |
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Foto Verônica Torres |
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O artista Joel Mateus Flores em ação |
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Foto Roberta Garcia - Mural pronto! |
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Marcelo, Lourdes e Anadir |
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Verônica resumindo a força que moveu o evento |