O ano começa com uma "nova" administração municipal, que tem como compromisso urgente preparar a cidade de Porto Alegre para receber a Copa do Mundo 2014. A preparação já é visível, mas, em muitos casos, não leva em consideração aquilo que os cidadãos querem para a cidade. Exemplo atual é a manifestação de moradores e associações contra as obras da Rua Anita Garibaldi, ocorrido em 10 de janeiro. Questionavam a necessidade da intervenção, levando em consideração os resultados quanto à mobilidade e a necessidade do corte de inúmeras árvores no local.
Associado a essa "urgência" na construção de uma cidade que se adeque aos padrões ditados pela FIFA, o setor imobiliário vê a possibilidade de multiplicação de seus lucros, por conta de uma onda de flexibilização permissiva, que pode colocar em risco o patrimônio cultural de Porto Alegre. O próprio projeto do Cais do Porto, que poderia e deveria ser uma obra que privilegiasse a ocupação do espaço para a população, traz em seu bojo a construção de dois imensos edifícios praticamente dentro de nosso Lago Guaíba. O projeto da Orla, muito necessário e desejado, alijou da participação arquitetos gaúchos, capazes e criativos, que conhecem os costumes e particularidades da capital gaúcha, em detrimento a um nome de um arquiteto famoso, que, ao mesmo tempo, representa os interesses do grupo estrangeiro que ganhou a licitação do Cais do Porto.
Mas a cidade, independente da Copa, vêm ao longo dos anos perdendo seu patrimônio cultural edificado. Em seu lugar, são construídos enormes edifícios, de preferência espelhados, supervalorizados e que trazem grandes lucros às construtoras. Casarões antigos e impregnados de história vão diariamente sendo postos abaixo nos mais diversos bairros. Pouco sobrou das residências da Av. Carlos Gomes; quase nada, da arquitetura açoriana; a fábrica de tecidos Fiateci vai abrigar quatro torres de edifícios residenciais, e assim vamos.
Claro que temos que ter em mente que a população cresce e que as construções são inevitáveis. Mas preservar a memória da cidade e ter em mente a sustentabilidade da cidade é o que vai nos distinguir num mundo cada vez mais globalizado e impessoal.
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