Já
faz algum tempo, está em curso uma campanha propondo a retirada do monumento do
Laçador do lugar em que hoje está localizado. A justificativa aparente é de que
ele estaria "escondido" da população e, devido a sua importância,
deveria ser realocado para um lugar mais central, como a orla ou o Parque da
Redenção. Contudo, creio que são necessárias algumas reflexões acerca dessa
proposta.
A
obra é de autoria de Antônio Caringi e foi a vencedora de um concurso de
esculturas, cujo objetivo era exibi-la no estande de nosso estado, na
Exposição-Feira Internacional do Parque do Ibirapuera, em 1954. Posteriormente,
seria doada à cidade de São Paulo, em comemoração a seus 400 anos.
Porém,
a peça retornou ao estado e foi adquirida pelo nosso Município, sendo, então,
fundida em bronze para instalação em logradouro público, originalmente, no Largo
do Bombeiro. E a escolha do local foi justamente a entrada da cidade, para dar
as boas-vindas aos que chegavam, tornando-se símbolo de Porto Alegre.
Em
2007, o monumento foi transferido para seu sítio atual, para dar espaço à
construção de um viaduto. O novo lugar foi escolhido dentro da perspectiva de
proximidade ao local original, justamente para manter o significado que acabou
sendo incorporado ao monumento. Para facilitar a visitação de turistas e
nativos, foi projetado um espaço com estacionamento e outros recantos.
Contudo,
o deslocamento da estátua, ampliado por problemas de conservação daquele sítio,
acabou por retirar da figura do Laçador parte de sua força identitária. Agora,
uma nova alteração está sendo proposta, mais uma vez desconsiderando a ligação
entre o monumento, seu simbolismo e diretrizes das cartas patrimoniais
internacionais, que contemplam, inclusive, o conceito de patrimônio ambiental
urbano.
Se
foi traumática a retirada do monumento de seu sítio original, não menos
impactante será sua transferência para um local absolutamente alheio ao
contexto no qual a estátua foi reconhecida como ícone de Porto Alegre. Uma vez
que está estabelecido na entrada da cidade, ali deveria permanecer, sem que com
isso representasse um distanciamento da população.
Foto: Felipe Rech Meneguzzi |
Existe
uma mobilização da administração municipal e da iniciativa privada em promover
o 4º Distrito como polo cultural e econômico. A revitalização proposta para a
região, que envolve o bairro onde está localizado o Laçador, deveria prever uma
conexão com o local nestas ações. Um exemplo simples seria a colocação de um
roteiro da Linha Turística para aquela região, contemplando uma visita ao sítio
do monumento.
É
importante frisar que novos conceitos sobre o patrimônio cultural apontam para
a conservação integrada, recomendada pelo Manifesto de Amsterdã. A preservação
dos bens culturais deve estar em consonância com o Plano Diretor, pois a cidade
deve ser considerada a partir de sua diversidade sócio-cultural e de sua
natureza dinâmica.
Foto: Paulo RS Menezes |
Assim, pelo valor inestimável que tem o
monumento do Laçador para Porto Alegre, qualquer proposta de retirá-lo do lugar
em que hoje se encontra deve, necessariamente, considerar que, mais do que um
patrimônio cultural tombado, a estátua hoje tem um valor simbólico, cuja origem
está no papel de acolhedor aos visitantes de nossa cidade.
Foto Antiga: http://prati.com.br/porto-alegre/porto-alegre-monumento-ao-lacador-1950.html
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