A proteção do patrimônio cultural demanda que se tenha um envolvimento com objeto a ser protegido, através do conhecimento histórico, técnico, dos aspectos afetivos envolvidos e de uma cultura voltada ao respeito e valorização do patrimônio. Por isso, transcrevo um texto sobre o assunto escrito pela vereadora Lourdes Sprenger.
O braço de plástico
da República
Lourdes Sprenger (*)
A memória histórica
urbana de Porto Alegre desaparece a olhos vistos ante a indiferença das
autoridades públicas. Este é um alerta que venho fazendo com a colaboração de
alguns meios de comunicação, pois a cada dia, a arte pública de Porto Alegre
continua abandona à própria sorte. Isto demonstra o grau de barbárie que está a
dizimar os traços da nossa cultura. No entanto, é importante destacar que já
vem de alguns anos a onda irrefreável de vandalismo, agora associado ao furto
de bronze e de cobre.
Tanto é que num
mercado de sucata da periferia da Capital foi resgatado o busto de Friedrich
Engels, serrado em três partes. O bronze que serviu para emoldurar a figura do
filósofo alemão foi vendido a R$ 3,00 o quilo. E o dinheiro, segundo apuraram
as autoridades, serviu para compra de crack. Exemplos, porém, são fartos. Só na
área do Parque Farroupilha, de onde desapareceu Engels, a falta de câmeras de
vigilância e a deficiência dos serviços da Guarda Municipal facilitaram o
desaparecimento de outras obras como a cabeça de Chopin, o busto de Annes Dias
e, mais recentemente, o do médico alemão Samuel Hahnemann, pai da homeopatia,
fixado no parque há 71 anos.
Sem forças para agir
diante do vandalismo, Porto Alegre se distancia das cidades em que o patrimônio
histórico urbano é admirado e preservado. Aqui, a prefeitura vem gradativamente
retirando obras culturais do ambiente urbano para escondê-las dos ladrões e
vândalos num espaço escuro e secreto, conhecido como ‘galpão das estátuas’. Por
isso, tenho feito gestões junto à Secretaria de Meio Ambiente e à Coordenação
da Memória Cultural na tentativa de obter informações e estimular um novo olhar
do poder público sobre nosso patrimônio urbano.
Foto: Ricardo André Frantz |
Nas minhas andanças
para conhecer a real situação da arte urbana da cidade recolhi fatos que bem
ilustram o drama de nosso patrimônio. Por exemplo: A República – estátua que
faz parte do monumento a Barão do Rio Branco, na Praça da Alfândega -
permaneceu longo período sem um dos braços. O mesmo foi refeito, com material original.
Durou apenas 15 dias e foi novamente arrancado.
Foto: Ricardo André Frantz |
Por fim, os restauradores
decidiram por um braço de matéria plástica. A solução custou R$ 3,00 (mesmo
valor pago aos ladrões pelo quilo do bronze de Engels) e a República continua
milagrosamente intocada desde então.
(*) Lourdes é moradora da Zona Sul e vereadora de Porto Alegre. Texto originalmente publicado no blog da vereadora: http://lourdesvereadora.blogspot.com.br/2014/03/o-braco-de-plastico-da-republica.html#more.
Nenhum comentário:
Postar um comentário