sábado, 28 de fevereiro de 2015

Razões para querer um Cais Mauá para todos

O texto abaixo foi publicado originalmente no Portal Meu Bairro, no qual escrevo quinzenalmente sobre assuntos ligados à cidade e ao patrimônio cultural.

A relação de Porto Alegre com o Cais Mauá é umbilical, pois ele faz parte de sua gênese. Seus primeiros passos foram dados ao seu redor e, como um pai zeloso, viu sua filha crescer, saindo de suas vistas e aventurando-se em distâncias inimagináveis aos seus olhos de então.
O Cais seguiu na labuta, passando os navios em revista, orquestrando as trocas de mercadorias e ajudando a cidade a tornar-se o que é hoje. O tempo passou e o lugar perdeu sua vocação para o comércio, mas seguiu majestoso às margens do Guaíba. E sua majestade foi reconhecida através da vida cultural que dali brotava: sua beleza plástica, os amplos espaços para receber a bienal e as crianças encantadas com personagens e cenários trazidos pela Feira do Livro, embarcar no onírico Cisne Branco, manifestar-se livremente ou sentar apenas para contemplar o por do sol, munido de chimarrão e de amigos.
Há muitos anos, os governos apresentam projetos, buscando oficializar o uso daquele espaço, recuperando seus prédios, bens culturais que foram protegidos pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)  e pelo Município de Porto Alegre. As propostas não se concretizaram e o Cais segue agonizando.
Mas por que isso acontece? Não pretendo dar uma resposta definitiva, como se me pertencesse a verdade. Mas tenho alguns palpites, principalmente em decorrência da análise da atual proposta de revitalização de nosso cartão postal.
A respeito dela, há quem diga que exista descrédito e desinformação por parte da população. Modestamente, discordo. Se existe desinformação sobre o que acontece no lugar e sobre detalhes dos procedimentos, não foi por falta de pedidos de esclarecimento. Eu mesma pedi, oficialmente, no portal de transparência de nossa prefeitura, informações sobre vários assuntos, como licenciamento ambiental, sobre possíveis audiências públicas, sobre os galpões tombados etc. Sei de mais gente que pediu e jamais recebeu resposta. Além disso, o acesso ao cais está interditado à população, sendo proibido até mesmo fotografar o local.
Será que o fato de que a população jamais ter sido ouvida na elaboração do projeto, não contribui com o que tem sido chamado de metáfora dos caranguejos? Ou talvez a indignação de ver o patrimônio cultural ameaçado, e até mesmo destruído, como aconteceu com as gruas protegidas, mas impiedosamente vendidas como sucata? Ou mesmo a constatação de que precisamos de um shopping às margens de um local de contemplação e não de consumo?
Para não dizerem que apenas sonho, lembro que o comércio de rua persiste em poucos lugares da cidade, sendo o Mercado Público, vizinho ilustre do Cais, um exemplo histórico a ser preservado.

As possibilidades de nos reconciliarmos com o Cais Mauá são inúmeras e a vontade é premente. A chave para que se opere este prodígio é envolver a população neste processo, de maneira transparente, congregando desenvolvimento e memória, turismo e cultura, a partir de nossas características, consolidando nossa identidade. E jamais esquecendo que a cidade só terá sentido se for pensada para as pessoas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Saudades!!

Gente, estou com muitas saudades de escrever aqui no blog, mas o tempo anda escasso. As lutas são tantas, que não estou conseguindo parar para escrever sobre qualquer assunto. Porto Alegre, como sempre, está perdendo, cada dia que passa, um pouco mais de sua história. 
Só para listar rapidamente, o Cais Mauá perdeu grande parte de suas gruas, que foram retiradas (sabe-se lá o porquê) para serem vendidas como sucata. Se vocês não se deram conta, mexeram (literalmente) com o perfil da cidade. E com a benção do poder público, que deveria proteger nosso patrimônio.
Ainda estamos às voltas com a lei inconstitucional que trata do processo de inventário no município. Ela está valendo, apesar da insanidade de submeter ao legislativo, quais os bens que serão ou não preservados. O Ministério Público está questionando a validade da lei judicialmente, mas e o inventário de Petrópolis? A quantas anda?
O um terceiro tópico que está na ordem do dia é o veto do prefeito à lei que tombava a antiga sede do Grêmio Gaúcho, que ainda resiste bravamente na Av. Carlos Barbosa. Foram anos na tentativa de tombar o local considerado berço do tradicionalismo, para que num mesmo ato o prefeito expusesse o desrepeito pela nossa história, bem como um posicionamento (no mínimo) equivocado da EPAHC (equipe de patrimônio histórico e cultural).
Assim, estamos convidando a todos para uma conversa sobre esse último assunto no próximo sábado. Lembrando que apenas a mobilização da sociedade civil é capaz de barrar este desmanche.