sábado, 30 de março de 2013

Um passo adiante nas redes sociais

          Ler dois artigos nessa semana, me fez refletir sobre a importância que nós, anônimos, temos na construção do local que em vivemos. O primeiro, de Ermínia Maricato (Cidades no Brasil: sair da perplexidade e passar à ação), trata da passividade quase paradoxal frente à perplexidade que os tempos atuais na Terra Brasilis têm trazido a seus cidadãos. O segundo, de Jillian York (diretora da Eletronic Frontier Foundation), apesar ser contextualizado em outra realidade (Censura e ativismo na rede), traduz a atual parceria entre jornalismo e mídias sociais.
           Atualmente, temos a ferramenta poderosa das redes sociais que, além de proporcionar oportunidade de ligar pessoas com os mesmos interesses, também possibilita que informações relevantes e, muitas vezes, contrárias àquelas que jornais tradicionais trazem em suas notícias e editoriais sejam compartilhadas e disseminadas. Forma-se uma rede de interesses e de informações sólida e aparentemente capaz de enfrentar um jogo desproporcional de forças.
          Contudo, o que temos assistido, e essa é uma palavra bem apropriada para a discussão, é que as manifestações mal conseguem passar do ambiente virtual para a realidade. Eventos são organizados e  chamados pela internet, centenas de pessoas se "mobilizam", mas deixam de estar presentes quando a  tal mobilização toma as ruas. A representação do movimento é acanhada e acaba por transparecer o pouco envolvimento que a sociedade tem para com aquele assunto. Como bem aponta Maricato, os movimentos sociais  têm recuado nos últimos dez anos, contribuindo para a aparente imobilidade frente à indignação e aos tortos caminhos pelos quais passam o desenvolvimento de nossas cidades. 
         Estamos assistindo às administrações públicas apontarem escavadeiras e gruas para o patrimônio cultural -   histórico, artístico e ambiental - , enterrando com os escombros parcela de nossa história e memórias coletivas ou pessoais. A flexibilização e revitalização são palavras da moda, que mascaram as reais intenções do capital, tornando as perdas sinais "evidentes" de progresso. Com o advento da Copa de 2014, agrava-se essa situação, trazendo perdas sociais e patrimoniais irreversíveis para Porto Alegre.
        A hora é agora. Concluo transcrevendo a proposição de Ermínia Maricato:

      "É preciso passar da perplexidade para a ação. É preciso entender o que está acontecendo e agir, cada entidade, cada movimento e cada pessoa dentro das entidades e dos movimentos. Agir com criatividade, com inventividade, de forma inovadora, porque o mundo está mudando. Aí estão as redes sociais, os boletins, as revistas, às quais temos acesso".


Demolição do Estádio dos Eucaliptos
Manifestação no bairro Moinhos de Vento
       



domingo, 24 de março de 2013

Aniversário de Porto Alegre

          Porto Alegre está de aniversário, razão mais que especial para se fazer uma reflexão sobre a cidade que vivemos e a cidade que queremos. Recentemente, um texto excelente foi escrito por Carol Bensimon, publicado no caderno de cultura da Zero Hora (acesse aqui). Nele, a escritora tece críticas e considerações sobre no que nossa cidade vem se transformando. Casas antigas, repletas de história, vão velozmente desaparecendo num suceder de escombros, orquestrado de forma a tornar inócua qualquer reação. Some-se a isso o famigerado conceito de "fato consumado", uma espécie de escudo protetor para que se consolidem situações que suscitem alguma dose de polêmica. E assim, a história da comunidade, das pessoas e da cidade vai desaparecendo.

          Outro aspecto que Carol aponta é a opção que a administração municipal  vem fazendo pelo automóvel. Cada vez mais, os percursos têm tornado-se mais longos e o transporte coletivo, menos convidativo.  Caminhar, segundo a autora, chega a causar uma sensação de insegurança, tal o desuso do hábito.
         Contudo, um movimento de resistência vem se estruturando dentro de nossa sociedade. São pessoas que se organizam de forma voluntária e criativa, oportunizando que a cidade seja vivida de forma mais humana e democrática. Temos inúmeros exemplos dessa nova forma de viver a cidadania: PortoAlegre.cc, Passagem com arte, Projeto Vizinhança e tantos outros que têm como objetivo tornar os espaços públicos lugares de convivência, tornando os frequentadores também seus cuidadores. 
          Um grupo, em especial, conseguiu apontar um caminho para algumas das preocupações expressadas no texto da Carol. É a gurizada do Freewalkpoa, que tive a grata satisfação de conhecer ontem, num dos eventos programados para a semana de aniversário de Porto Alegre. A proposta é uma caminhada guiada por uma região do centro da cidade - ontem foi a Cidade Baixa -, contando sua história, mostrando sua arquitetura, propiciando a participação dos ouvintes em relatos pessoais ou histórias folclóricas ocorridas no bairro. Não bastasse o passeio em si, corre-se o "risco" de se conhecer pessoas interessantes e de se dar gostosas risadas, além de paradas estratégicas em alguns bares para refrescar a garganta e conhecer a vida que existe fora dos shoppings centers (sim, existe e é fantástica!!).
Foi como uma visita a uma Porto Alegre que eu desejo para mim, para meus amigos, para todos os cidadãos. Ela existe, mas precisa do nosso empenho, como força antagônica àquilo que vem sendo imposto a nós. Porto Alegre merece esse presente.

Turma do passeio
Museu Lopo Gonçalves


Travessa Venezianos

Nossos simpáticos guias











Mais detalhes dos grupos citados:
https://www.facebook.com/FreeWalkPoa
http://urbsnova.wordpress.com/2013/03/23/encruzilhadas-urbanas-por-carol-bensimon/
https://www.facebook.com/poa.cc?fref=ts
https://www.facebook.com/ProjetoVizinhanca?fref=ts
https://www.facebook.com/passagemcomarte?fref=ts

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sociedade Beneficente Floresta Aurora

Quando estava prestes a completar 140 anos de atividades, no final de 2012, a Sociedade Floresta Aurora começou a viver mais um capítulo crucial de sua existência. Uma das mais importantes entidades representativas da comunidade negra da Capital vai, mais uma vez, mudar de endereço. A Floresta Aurora não suportou a especulação imobiliária nem a pressão de moradores de condomínios do bairro Pedra Redonda e vai para outro lugar, em sede no bairro Belém Velho, também na zona Sul da Capital.
fotos Giane Vargas
      


Um pouco de história
A Sociedade Floresta Aurora é o principal marco da comunidade negra de Porto Alegre. Sua importância extrapola os limites do estado pois o clube existe desde 1872 (antes da abolição) e um de seus sócios foi João Cândido, que em 1910 viria a ser líder da Revolta da Chibata no Rio de Janeiro, um dos fatos mais importantes da história brasileira. O clube foi fundado em 31 de dezembro de 1.872, na esquina das Ruas Aurora (atual Barros Cassal) e Floresta (hoje Cristóvão Colombo) – daí o nome – por negros forros. Em sua maioria eram operários, mas haviam também funcionários públicos, jornaleiros, motoristas e até um "proprietário", segundo velhos registros. Quase todos moravam na Cidade Baixa, Bonfim, Rio Branco e Menino Deus, bairros que na época abrigavam praticamente toda comunidade negra porto-alegrense. Inicialmente o caráter da sociedade era beneficente e tinha como um dos objetivos prestar assistência a famílias negras em caso de óbito de seus provedores, custeando até o funeral. Com o tempo o aumento do quadro social possibilitou o crescimento do clube, diversificando suas atividades. Bailes, atos públicos, protestos e homenagens passaram então a fazer parte do calendário da entidade.Alguns desses eventos marcam a história do clube, como a homenagem a João Cândido em 1959 e o inesquecível show de Agostinho dos Santos.

Desde 1998, a entidade estava estabelecida na Av. Cel. Marcos. Agora, quem passa por ali, vê uma imensa placa de VENDIDO. Os prédio azuis se destacam ao fundo e certamente estão com os dias contados. Ninguém sabe quem comprou o terreno, mas possivelmente o local, ponto nobre do bairro, pois tem o Guaíba como fundos, dará lugar a mais um condomínio de luxo. Mais uma parcela de nosso rio será privatizada. Sobre os prédios, ainda não consegui descobrir se têm características arquitetônicas e históricas a serem preservadas, mas é sempre triste que a possibilidade de que sejam postos abaixo. O vereador Pedro Ruas já manifestou sua indignação pelo desvalorização da entidade e pelo destino de sua sede recentemente na Câmara de Vereadores. Vamos ver como será o final da história.

Fontes:
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=492240
http://florestaaurora.blogspot.com.br/2009_08_01_archive.html

sexta-feira, 8 de março de 2013

De ponta-cabeça: Prédios versus casas

          Inaugurou ontem, 07/03/13, a exposição de Maria Tomaselli, na galeria Bolsa de Arte. Essa exposição tem muito a ver com a preocupação desse blog: a destruição das casas para dar lugar à construção de edifícios. O mote é chamar a atenção para esse assunto, que tem estreita ligação com a falta de planejamento urbanístico.
          A crítica da artista consiste no crescente apagamento da memória de uma Porto Alegre açoriana e da falta de preservação de imóveis representativos das diversas épocas que construíram nossa cidade. A preservação, ao contrário do que prega a ideologia do mercado imobiliário, pode, sim, trazer recursos à administração pública, na medida em que estimula o potencial turístico da cidade. Tomaselli diz que "Porto Alegre seria uma cidade açoriana compotencial turístico incrível, se tivessem preservado o Centro com a memória dos primeiros que estiveram aqui". O pouco que sobrou dos Açorianos está no bairro Cidade Baixa, devendo ser considerado patrimônio cultural. Contudo não é dificil de entender porque nossa cidade tem tanta dificuldade de preservar o que tem de bom em seus bairros. Em nome de um alegado progresso, se destrói sem critério - ou melhor, de acordo com critérios exclusivamente econômicos - grande parte do legado de nossa população.
          Maria Tomaselli cita a obra House Attack, de Erwin Wurm, como uma metáfora de como as coisas estão viradas do avesso. Segundo a artista, "em vez de fazer um bairro planejado, eles simplesmente vendem casas para colocar um espigão no lugar. A casa que fica ao lado deste prédio não terá mais sol nunca. Não sei se isso está certo"

 
  
       

A exposição estará aberta até 08/03 a 06/04/2013, de segunda à sexta, das 10h30 às 19h e nos sábados, das 10h às 13h30, na Bolsa de Arte, Rua Visconde do Rio Branco, 365, fone 3332.6799.



Obras da artista
  fontes: ZH - Segundo Caderno de 07/03/13
            Site da Bolsa de Arte
            Site Glam Valley


sábado, 2 de março de 2013

Projeto Novo Recife

           Um projeto polêmico, que envolve a região portuária. Porto Alegre? Não, é Recife, Pernambuco. Assim como os gaúchos, a população da cidade não foi consultada e um consórcio de empresas, nesse caso, brasileiras planeja a construção de 13 torres para residências e escritórios. A área situa-se na região portuária e abandonada, conhecida como Cais José Estelita. O local em questão fica entre os dois conjuntos de galpões ao longo do Cais – do início do Cabanga ao viaduto das Cinco Pontas. O local abriga antigos galpões, estações ferroviárias e a segunda linha de trem mais antiga do Brasil.

Fonte: PINIweb
          Contudo, segundo o Instituto dos Arquitetos do Brasil, seccional de Pernambuco, através de sua presidente, a arquiteta Vitória Régia de Andrade, pondera que o projeto não resolve os problemas do bairro São José, que deveria, na verdade, receber um plano urbanístico da prefeitura para a criação de espaços de convivência. Existe uma grande preocupação, tanto da população quanto das entidades ligadas ao meio ambiente e urbanismo, referente ao impacto que tal empreendimento trará à região.
           O projeto foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) da prefeitura de Recife, nos últimos dias de dezembro. A validade da aprovação, entretanto, foi questionada pelo grupo apartidário Direitos Urbanos, que discute assuntos de interesse urbano da cidade. 
           Conforme noticiado no site G1, "O Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social, entidade que atua na defesa e promoção dos direitos humanos, pediu, por meio de nota pública, que a prefeitura não aprovasse a proposta. 'Para que ela seja discutida, posteriormente, com mais transparência e ouvindo, em audiência pública na Câmara de Vereadores, as entidades representativas da sociedade civil e militantes comprometidos com a efetivação do direito à cidade'. O projeto não apresentou análise dos impactos sobre uma área classificada como Setor de Sustentabilidade Ambiental e estudo de impacto da vizinhança, como prevê o Estatuto das Cidades e o Plano Diretor". A construção de uma "parede" de prédios interfere no arejamento da cidade, provocando elevação da temperatura, impulsionando a concentração de atividades na área central e, com isso, aumento do número de automóveis.
          A promotora Belize Câmara, da Promotoria do Meio Ambiente, que vinha acompanhando o caso e atuando de forma efetiva através de uma ação civil pública, foi afastada do posto, agora, em março de 2013. De acordo com o grupo Direitos Urbanos," na voz do promotor público o interesse coletivo deixa a esfera da abstração e se torna factível, exequível e, nos melhores casos, real. Calar a voz do promotor público é silenciar a democracia". 

Fonte: O Reverso da Justiça - Direitos Urbanos
          Conforme Edilson Silva, no blog Acerto de Contas, as críticas ao projeto focam " na preservação do patrimônio histórico e na destinação da área para fins de interesse das maiorias, que significa dizer voltar a área para fins da coletividade da cidade: direito humano à contemplação da paisagem; direito à brisa e a uma temperatura ambiente mais adequada nas áreas centrais da cidade; direito à mobilidade; direito à moradia; direito a opinar e decidir em que tipo de cidade queremos e podemos morar, como bem consagra o ordenamento jurídico vigente, através, dentre outros, do Estatuto das Cidades". 


Projeto ‘Novo Recife’: exemplo de especulação imobiliária e segregação social. 
Fonte: Revista Babel
          E essa é sempre a mesma discussão: interesse público x interesse privado. Cidade para todos ou cidade-mercadoria? Aqui em Porto Alegre, com a escolha da cidade como sede da Copa, a opção por parte da prefeitura pela Cidade-mercadoria parece muito clara. É visível no projeto do nosso Cais da Mauá, na ocupação da orla do Guaíba, nos contratos firmados com clubes de futebol e as construtoras de seus estádios. Cabe a nós mantermos o questionamento, marcando posição e defendendo os interesses comuns, como estamos fazendo no caso da Rua Anita e nas remoções da Vila Tronco, entre outros.
         Para ajudar a divulgar o disparate que é o projeto Novo Recife, nós que nos insurgimos contra o projeto do Pontal do Estaleiro, podemos assinar a carta ao prefeito de Recife, idealizada pelo grupo Direitos Urbanos. Quatro estudantes brasileiros que residem atualmente na Itália fizeram um pequeno vídeo que pode ser acessado aqui.

Assinar a Carta ao Prefeito - clique aqui